segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Papai


(Hoje, dia 8 de outubro de 2012, meu pai, o "seu" João, completaria 86 anos, se vivo fosse.
O texto abaixo foi escrito em 21 de abril de 1989, dia do seu falecimento.
Fica a singela homenagem:
Parabéns, papai. Saudades!)

Fico filmando nossas vidas,
minhas lembranças do passado:
o mais distante, eu, criança,
na tua mão dependurado
feliz por te ter ao meu lado.

Depois, você foi embora,
fiquei em meu mundo vazio;
senti tua falta, teu afeto,
mas tinhas outra vida a viver.

Mais tarde, nos reaproximamos,
tivemos nova relação;
ajudaram a te reaver
os meus filhos, teus netos.

Depois, a criança era você
e eu te conduzia, pela mão,
ao meu lado:
tornei-me o rabugento, o chato,
em meu excesso de cuidado.

Hoje estás aí, deitado,
tranquilo, inocente, dormindo;
e eu me pergunto:
“Onde andarás, meu amigo?”

Queria tanto estar contigo...

sábado, 21 de julho de 2012

Para Flávia e Marco

(a ordem do título é cronológica...)


Fiz-vos com tal zelo
que, apesar do meu modelo,
chegastes onde chegastes.
Não me surpreende
tendo em vista vosso permanente
esforço e dedicação (inteligência à parte).

Repito em alto tom:
nem tudo que é bonito é bom;
nem tudo que é feio é ruim.
Vós sois a grande exceção,
belos e de bom  coração
como eu gostaria em mim.

Vibro com o que tens conquistado
orgulho-me, enfim,  do resultado
obtido, entre várias opções.
E afirmo, risonho:
Em vós realizo meus sonhos,
em mim sofro vossas decepções.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Recuperação

Meu presente é a tua saúde
e o teu retorno para casa
que já anda meio vazia.
E, então, que tudo mude
e você venha e faça
incendiar essa cama fria.

Sadia!

O relógio (de Cassiano Ricardo)

Li esse poema quando garoto (era um dos textos do meu livro de portugues) e fiquei tão impressionado que nunca mais o esqueci:

Diante de coisa tão doída,
conservemo-nos serenos:
cada minuto de vida
nunca é mais, é sempre menos.

Ser é apenas uma parte
do "não-ser" e não do ser
pois desde o momento em que se nasce
já se começa a morrer.

Viver mata


Beber?! mata!
Fumar?! mata!
Transar?! mata!
Drogar?! mata!
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Viver mata!!!

sexta-feira, 30 de março de 2012

Velhice?!



Sim, talvez eu seja velho
porque não me sinto parte
dessa nova estrutura social;
porque não me espelho
nessa imagem inerte
assumida pela sociedade atual.

Sim, eu sou do tempo
em que questionávamos a ditadura
e clamávamos por nossos direitos.
Alienávamos ou aderíamos ao movimento
contra a chamada “linha dura”
e o tal “milagre brasileiro”.

Naquele tempo, vi Garrincha, vi Pelé, vi Didi.
Acompanhei os Beatles nascendo,
assisti o homem pisar na Lua,
até Elvis Presley eu vi...
Mas também vi o pau descendo
em quem ousasse protestar nas ruas.

Ah, aquele tempo em que, para dançar,
era preciso um homem e uma mulher
e música lenta pra ficar agarradinhos.
Tempo dos sarrinhos ao luar,
do “bem-me-quer-mal-me-quer”,
das mãos dadas e dos beijinhos.

Aliás, era um tempo
em que só existiam dois sexos
que se entendiam muito bem
e que se identificavam sem contratempos.
Nada, como hoje, tão complexo
para se determinar o sexo de alguém.

Tempo em que malandro era bandido
que briga de rua era na mão,
que se jogava futebol na rua.
Tempo em que família fazia sentido
e que o máximo de tesão
era foto de mulher nua.

Líamos, pois livros eram diversão;
às vezes um cinema no fim de semana
depois do almoço de carne assada com espaguete.
Não ligávamos para a tal televisão
e era “super-bacana”
não sermos escravos da internet.

Brinquei na chuva, bebi água na torneira,
tinha árvore no quintal,
comi fruta no pé;
Em junho, pulávamos fogueira,
soltávamos balão: não fazia mal!
Estourávamos bombinha e buscapé...

Em setembro,
Dia da Criança, São Cosme e Damião,
disputávamos doces na rua.
Bem que eu me lembro
cheio de doces na mão
a cara suja e as costas nuas...

É, creio que sou velho sim.
Mas trago comigo tantas lembranças
e ainda tenho saúde e paz.
Que bom, ser velho assim
e ainda poder ter a criança
que alguns não tiveram jamais...