quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Dicotomia do tempo


Chove lá fora!
A chuva bate forte na janela embaçada
açodada pelo vento
que assovia entre prédios e árvores.
Esse vento vem do mar.
Aqui dentro, o dia sombrio
escurece a alma.
Não há alegria, não é possível sonhar.
Não se sonha em dias de chuva.

Mas ontem não choveu.
Foi um dia claro, com céu azul.
Algumas nuvens aconteceram
mas, passageiras, logo se foram
carregadas por uma brisa leve
que balançava as árvores e
refrescava os prédios.
Essa brisa vinha do mar,
E havia alegria, havia sonhos...
tantos que não se conseguia realizar.
E eu fiquei na janela
observando o dia acabar.

Agora é tarde,
não dá para voltar o tempo
e a chuva, quando vem,
vem para ficar.

E vai chover para sempre.

terça-feira, 27 de agosto de 2019

Saudades


É só o que faço:
sentir saudades...
Saudades!!!
Do tempo, da matéria e do espaço;
saudades dos sonhos realizados
e até mesmo dos sonhos frustrados;
saudades do caminho escolhido
e da alternativa que poderia ter sido;
saudades de quem está perto;
saudades de quem está ausente;
Saudades!!!
Pois, na minha idade,
o futuro é incerto
e o presente
é a saudade do passado.

sexta-feira, 5 de julho de 2019

Convite



Ah, finalmente!!!!
Eu tenho casa novamente!
Não é nenhuma mansão,
nem, ao menos, um palacete:
uma casa, somente!
Mas uma casa agradável
que te receberá com afeto,
te proporcionará um teto,
uma chuveiro quente,
uma cama  confortável e,
se  não um banquete,
pelo menos uma boa refeição.

Então.
Vem me visitar...
Basta dizer quando virá.

domingo, 9 de dezembro de 2018

O sonho


O sonho

Essa noite eu sonhei com você. E foi um sonho tão bom...
Você estava linda, com uma roupa branca justa que desenhava o teu corpo. Por cima dela, um véu branco, transparente, que te envolvia.
No sonho, tive a coragem de contar do meu amor por você e você me contou que eu era correspondido.
Fiquei tão feliz!!!
Então, nós nos abraçamos, e nós nos beijamos, e nós nos acarinhamos.
Acordei triste por ter acordado e passei o resto do dia com um buraco no peito, uma ansiedade, dividido entre a expectativa de que o sonho poderia ter sido um sinal do Universo de que você e eu ficaríamos juntos e a decepção de ter sido apenas um sonho – uma expressão do meu subconsciente – e por eu não possuir aquela varinha de condão dos contos de fada, que permitem transformar sonhos em realidade.
Foi a primeira vez que sonhei contigo enquanto dormia.
Agora, como antes, sonho contigo acordado.
E te enviei uma música...

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terça-feira, 4 de setembro de 2018

Tavarísh



Meu amigo,
meu camarada ...

Ninguém entendia
aquela tua energia,
aquela tua necessidade
de estar sempre comigo,
a tua forma de amizade.
Todo mundo reclamava.
E isso me incomodava
tanto e tanto
que eu acabava ralhando contigo.

Voce teve uma vidinha agitada!

No entanto, partiu quietinho,
sem um latido, sem um ganido,
encolhido no teu canto
como se quisesse partir sozinho,
como se quisesse não incomodar
e nem me deu a oportunidade
de uma última vez te abraçar.

Ficamos juntos 15 anos.
Te vi nascer, te vi crescer,
te vi morrer.

Voce fez parte dos meus planos

Vou lembrar sempre
do teu olhar pidão,
teus olhinhos carentes
buscando o afago da minha mão ,
o rabo em eterno abanar...
e dos teus pulos contentes
como se fossem cem anos ausente
ao me perceber chegar.

Vou sentir saudade
dessa amizade sincera
de quem tudo dá e nada espera...
Um amor cego, de verdade!

sábado, 18 de agosto de 2018

A morte


Pego-me aqui sozinho
imaginando como será a morte:
Um sono sem sonhos,
profundo e escuro?
Ou simplesmente se some?

Pensamentos bisonhos:
Morreu, morreu. Acabou.
Não serei mais quem eu sou!
(por mais que tenha sido)

Com um pouco de sorte
talvez sejamos, no futuro,
uma lembrança, um nome,
guardados com carinho.

Mas logo, logo esquecido.


sábado, 4 de agosto de 2018

Flávia


Há 40 anos você chegava em minha vida.
Lembro da alegria em tua chegada, teu sorriso desdentado, teu choro desmamado...
Foi outro dia mesmo...
Nossa!!!  Como o tempo passa rápido quando olhamos para trás.
Primeira filha, primeira neta... Tinha tudo para dar errado. Mas não deu!
Lembro de você fingir dormir no sofá, quando percebia minha chegada do trabalho, só para eu te pegar no colo e te levar para tua cama. E você abrindo os olhinhos, sapeca, me “surpreendendo” acordada. E quando eu ria da peripécia, você me chamava de “risadinha”.
Lembro das inúmeras vezes que dormi tentando te ninar.
Lembro da passagem em Araruama, quando você confundiu os ovinhos de amendoim.
Nunca vou esquecer o susto que você nos deu – e o desespero que senti – quando você adoeceu e ficou internada.
Também lembro da adolescente chata que passava o fim de semana trancada no quarto ouvindo Sacrifice a toda altura, remoendo seu rancor.
Lembro das aulinhas de Física e do terror que a matéria te inspirava.
Lembro do “bico” dos domingos de manhã quando eu te acordava ao som de Besame Mucho.
Lembro do orgulho que senti (e ainda sinto) com as tuas conquistas: Pedro II, UERJ, mestrado, doutorado, teu desenvolvimento pessoal e profissional. E da tristeza que sentia com as tuas frustrações.
Muitas vezes penso não ter sido o pai ideal. Apesar disso, celebro a amizade, o amor e o carinho que percebo termos um com o outro.  E entendo que as nossas rusgas são fruto disso.
Comemoro o fato de estar presente para ver mais um ano da tua vida, com saúde e com esse brilho no olhar que tanto me encanta.
Enfim, quero te dizer que você não é só lembranças. Na verdade, isso tudo são marcas. Marcas na minha vida, pois você é parte importante dela.
Te amo muito!
Feliz aniversário.
Pai  (04/08/2018)