sexta-feira, 30 de março de 2012

Velhice?!



Sim, talvez eu seja velho
porque não me sinto parte
dessa nova estrutura social;
porque não me espelho
nessa imagem inerte
assumida pela sociedade atual.

Sim, eu sou do tempo
em que questionávamos a ditadura
e clamávamos por nossos direitos.
Alienávamos ou aderíamos ao movimento
contra a chamada “linha dura”
e o tal “milagre brasileiro”.

Naquele tempo, vi Garrincha, vi Pelé, vi Didi.
Acompanhei os Beatles nascendo,
assisti o homem pisar na Lua,
até Elvis Presley eu vi...
Mas também vi o pau descendo
em quem ousasse protestar nas ruas.

Ah, aquele tempo em que, para dançar,
era preciso um homem e uma mulher
e música lenta pra ficar agarradinhos.
Tempo dos sarrinhos ao luar,
do “bem-me-quer-mal-me-quer”,
das mãos dadas e dos beijinhos.

Aliás, era um tempo
em que só existiam dois sexos
que se entendiam muito bem
e que se identificavam sem contratempos.
Nada, como hoje, tão complexo
para se determinar o sexo de alguém.

Tempo em que malandro era bandido
que briga de rua era na mão,
que se jogava futebol na rua.
Tempo em que família fazia sentido
e que o máximo de tesão
era foto de mulher nua.

Líamos, pois livros eram diversão;
às vezes um cinema no fim de semana
depois do almoço de carne assada com espaguete.
Não ligávamos para a tal televisão
e era “super-bacana”
não sermos escravos da internet.

Brinquei na chuva, bebi água na torneira,
tinha árvore no quintal,
comi fruta no pé;
Em junho, pulávamos fogueira,
soltávamos balão: não fazia mal!
Estourávamos bombinha e buscapé...

Em setembro,
Dia da Criança, São Cosme e Damião,
disputávamos doces na rua.
Bem que eu me lembro
cheio de doces na mão
a cara suja e as costas nuas...

É, creio que sou velho sim.
Mas trago comigo tantas lembranças
e ainda tenho saúde e paz.
Que bom, ser velho assim
e ainda poder ter a criança
que alguns não tiveram jamais...